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Fôlego

Uma felicidade inquietante. Como se estivesse numa bicicleta e recebesse aquele empurrão pra seguir e o aviso: "Vai, que se parar, cai". O medo se espalha uniforme pelo corpo e alcança o equilíbrio. Não é fácil e a queda, se sabe, pode ser bem feia. Mas vamos, porque não saber andar de bicicleta já doeu demais. Adiar planos, agradar apenas aos outros, se agarrar a idéia de que não se consegue fazer algo está ficando absolutamente impossível nesses meus 25 anos. Não é hora de alardear, anunciar, vibrar. Ainda. É apenas de absorver e se absolver. Perdoar-se e abraçar-se. Preocupar-se, afinal, estamos falando de mim. Mas sem desperdícios.

Orgulho Paralímpico

"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia." Não foi essa trilha brasileira que embalou a festa de encerramento das Paralímpiadas de Londres, mas podia ter sido. Mesmo com toda falta de acessibilidade, respeito e reconhecimento ao valor das pessoas com deficiência que encaramos no Brasil, os para-atletas deram um show. A meta de alcançar o sétimo lugar no quadro de medalhas foi alcançado, superando um bocado o desempenho dos atletas olímpicos.  43 medalhas, sendo 21 de ouro, 14 de prata e 8 de bronze contra 17 medalhas nas Olimpíadas e um 22º lugar no quadro de medalhas. Comparar é chato, mas para mim é inevitável, desculpa. Afinal, no que diz respeito às qualidades inerentes a um bom atleta, os para-atletas são semelhantes aos demais. Muito treino, garra, determinação, esforço e nem tanto reconhecimento. Em terra de endeusamento de "Neymares" quantos atletas olímpicos se vê estampados em campanhas publicitárias? E paralímpicos?  Numa nação em que estamos, a to

O tortuoso Caminho

Eu pretendo fazer uma série de posts sobre minha escoliose. 15 anos com ela, já vivi de tudo. Agora, depois de muito relutar, temer, pensar, resolvi operar. Estou me martirizando por ter demorado tanto, mas acho que a vida coloca mesmo a gente pra fazer cada coisa a seu tempo. Como só poderei fazer minha cirurgia em dezembro, controlarei minha ansiedade dividindo com vocês tudo o que eu já passei com minha escoliose e minha preparação pro grande dia. Mas, meu blog continuará a ter outras coisas também, retomarei esse cantinho que já fez tanto por mim. Atualmente, minha escoliose tá braba. 89º, segundo raio-x recente, o que é horrível e só dará pra consertar até uns 50º. Daí, vocês se perguntam por que diabos eu deixei chegar nesse estágio. Explico um pouco nesse primeiro post. Um pouco mesmo, porque nem eu entendi até hoje o motivo. Desde 1997, aos 10 anos, fui diagnosticada com escoliose, algo bem comum para quem passa o dia na cadeira-de-rodas, como eu. Daí, durante o estirão da

De boas intenções, o inferno está cheio.

Hoje vai ser um daqueles dias que estarão na memória. Ter escolhido fazer Direito coloca  a gente numa série de coisas solenes, tipo essa de receber a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil. E lá se vão mil recomendações e documentos a serem trazidos antes, do traje (paletó para os homens e "vestimenta compatível com a função de advogada" para mulheres) a recomendação de não se atrasar. Acontece que acima das recomendações com que eles se preocupam tanto, existe a lei que exige acesso pleno a prédios públicos. E na OAB Seccional Bahia não há sequer uma vaga reservada, a rampa de acesso é uma de madeirite coberta (tinha que ser, né? Para parecer "bonito") de tecido. E já que nem nos dias solenes se pode deixar de lado a deficiência, fui lá recebr minha carteira que mereci e alcancei, sempre seguindo as recomenações, mas nem sempre recebendo dos que me recomendavam o respeito aos meus direitos. Já falei disso aqui antes, mas é impressionante e irritante como as p

Mas como é isso de se sentir deficiente?

Essa semana um assunto que brota, vez ou outra, me rondou um bocado e me deixou com vontade de escrever: Como é se sentir deficiente? Quase como Gabriela de Caymmi, eu não nasci assim, mas eu cresci assim, eu sou mesmo assim e muito provavelmente, vou ser sempre assim: Pessoa com deficiência. Uso cadeira-de-rodas desde que me entendo por gente e acho que isso vocês já sabem. Eu não sei de ser de outro jeito, portanto, isso acaba sendo algo que não faz muita diferença na minha vida, psicologicamente falando. Não fico pensando "Ah, mas como seria se eu pudesse andar "como todo mundo"?", afinal, aprendi que não existe essa de "como todo mundo", tem mais gente diferente do que a gente consegue enxergar. Mas, sim, tem horas que não é nada bom ser como eu. O bicho pega, e até mesmo coisas cotidianas dão um nó na garganta. Daí essa semana, os episódios das séries que eu ando acompanhando ultimamente, coincidentemente, tocaram nesse assunto.(Um spoilerzinho leve
Helen conseguiu vencer o engarrafamento horrível e chegar ao salão de beleza, finalmente. Mal cumprimentou a todos, envolta nos pensamentos sobre o monte de coisa que tinha para resolver durante a semana. A reunião do novo projeto da chefe, com o qual ela super discordava, mas tinha que defender com unhas e dentes frente aos investidores. Unhas que estavam horrorosas, por sinal, tinha que entrar na fila da manicure, não ia dá pra só sair dali de cabelo cortado. Helen não era daquelas que gostava de se embelezar, mas o fazia, muito bem até. Achava que era mais uma obrigação, que ela cumpria, obviamente. E aquelas revistas femininas espalhadas pelo salão? Argh. Com roupas lindíssimas, que quase nunca se acha na loja quando procuramos. Com cabelos perfeitos, que nem quando saímos dali alcançamos. Com pele que só pode ser photoshop de tão perfeita. Aliás, que coisa essa chata mais essa dúvida que surgiu sobre se há realmente pele perfeita, ou a gente pode se encher de porcaria que aquilo