Do tempo, da transição capilar, e do que sou.
"Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo"
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo"
Mas Mila é só um cabelo, diria alguns sobre minha transição de cabelos quimicamente alisados para os cachos. Não é. É voltar à adolescência e à época que eu não tinha noção de minha beleza, que eu mal tinha espelho, que eu não sabia me admirar. E amarra o cabelo, e esconde que ele "não é bom", e alisa com x, y e z. Reiterando que eu dependo do outro pra penteá-los e que eu preciso que as pessoas entendam o que eu quero e que nem sempre isso é possível. E que a transição, para quem não sabe, é basicamente esperar, muito, o cabelo natural crescer e ir retirando o antigo. Darei conta? Sendo essa decisão sobre cabelo só uma das coisas que vem aparecendo de outras épocas, para me testar.
A pergunta é: no que Mila de agora se assemelha com a de lá de trás e no que se diferencia? Porque se optou pelo caminho reverso é porque quer, no fundo, desconstruir e encontrar o que de lá de trás prende e chama, respectivamente. Pode parecer só um cabelo, as meninas cacheadas sabem que não é, mas além do que tem em comum com todas as outras que resolvem não mais alisar, tem o que é meu e essa reunião de fantasmas do natal passado que se enfileiram na minha porta querendo entrar. De tudo, nascem perguntas tão incômodas quanto revigorantes: "Para que mesmo me serviram todos esses anos? O que mesmo me fez mais forte, para além do que dizem, reiteradamente, que sou? O que é necessário não temer repetir, posto que é morto? E o que ainda vive, não sem razão? O que de mim pode ser entregue ao acaso, que eu dou conta, que o tempo me entregou as ferramentas para lidar, não sem luta?"
Nenhuma das respostas, ainda. Só o tempo (engole seco) dirá.
( No vídeo, Bethania, seus cabelos tão cheios de significado, cantando Caetano e recitando Vinícius para me ajudar a digerir)
eu acho que o grande lance desse momento é reinventar-se. é buscar na raiz (rá!) a sua essência e aprimorá-la, agregando a ela tudo o que foi aprendizado nesses anos alisados. a praticidade vai ceder lugar à observação do tempo, à aceitação e assunção. vai ser um tempo de labuta, como um artista que esculpe - e vive - a sua obra. como todo processo em que se deposita energia, no fim você colherá os lindos frutos cacheados da sua persona. <3
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