Ela acordou era muito cedo. Desde que havia se mudado, se dava ao luxo de dormir até um pouco mais tarde, afinal, tudo havia ajeitado-se e ela não precisava mais se descabelar em duas horas de condução até o trabalho. Morava perto, ia de bicicleta, recebia até carona da vizinha, ruiva, às vezes.
Mas não conseguira dormir direito. Sim, tudo estava bem. E agora? Onde guardar suas angústias num dia-a-dia que só cabia tudo que ela havia sonhado? Seu amor estava ali, dormindo, e se preocupar com a tampa do vaso levantada não era um destino que ela queria, naquele momento. Suas angústias não poderiam se mudar. Ela aprendeu a viver com elas e se sentiria órfã se, por acaso, resolvessem partir. Não sabe viver sem a dor, sem a preocupação. Aguardava o momento em que tudo se partisse. Pronto, já tinha separado ali um lugar entre o sofá e o corredor. Ali moraria a angústia de esperar o momento em que tudo desse errado. Era mais fácil do que encarar a realidade feliz que merecia.

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